A
história de um jovem casal que se apaixona e decide fugir em meados dos anos 60
pode parecer estranha ao ser aplicada aos personagens principais, crianças de
doze anos. Este é, basicamente, o enredo de Moonrise
Kingdom, de Wes Anderson. Um dos elementos mais cativantes do filme, porém,
é a maneira delicada e divertida com que tal enredo é retratado.
Suzy
é uma garotinha rebelde que participa de um coral de igreja e tem problemas com
os pais. Sam é um escoteiro dedicado às suas atividades, com muito interesse em
técnicas de acampamento. Eles se conhecem em uma das apresentações de Suzy, e a
partir daí começam a trocar cartas e bilhetes que mais tarde se transformam em
um plano de fuga para ambos, cansados de suas vidas monótonas.
O
desenrolar dos fatos, que não ocorre de maneira totalmente linear, é
acompanhado de uma trilha sonora simples e coesa. Ela é, em sua maior parte,
constituída de cantos gregorianos por vozes infantis, o que remete à igreja e
às crianças, estabelecendo uma ligação entre dois itens importantes do filme.
Com uma fotografia convidativa e
um enquadramento que beira a perfeição, Wes trabalha com uma exploração
agradável dos aspectos técnicos, que permeia também a escolha de cores,
condizente com a história e a época retradadas no filme.
A
obra é delicada, tratando com sutileza a fase de transição entre infância e
pré-adolescência vivida pelos personagens principais, que é marcada pela união
entre inocência e curiosidade à medida que eles se apaixonam.
Pode-se
estranhar a princípio o modo adulto com que Suzy e Sam agem, com atitudes
maduras que não fazem parte do comportamento de crianças de doze anos. A todo o
tempo, os dois são representados com um espírito de independência, coragem e
racionalidade, ao longo de sua fuga pela floresta. O estranhamento, contudo,
transforma-se em empatia no decorrer do enredo, ao nos depararmos com um
casalzinho simpático e despretensiosamente “apaixonado”.
Tendo
como base uma história divertida e tola, o diretor consegue trabalhar de modo a
inserir emoção ao enredo, com dramas casuais familiares que envolvem perdas e
traições. Tal inserção não é determinante para que o filme seja concebido de
maneira dramática, assim como a sutileza no humor da trama impede a propulsão à
comédia nonsense. Moonrise Kingdom,
dessa forma, é um filme leve e bem equilibrado que explora o imaginário
infantil em relação ao primeiro amor.