Os
ponteiros do relógio marcavam 19:27 quando eu consegui, finalmente, chamar um
táxi. “Vou chegar atrasada”, pensei, enquanto terminava de colocar meus
pertences dentro da bolsa e corria para o portão. Eu estava prestes a viver uma
das experiências jornalísticas mais incríveis da minha vida, e minhas unhas
sofriam as consequências da minha ansiedade.
Quando a banda Hocus Pocus
respondeu meu contato e disse que sim, seria possível marcarmos uma entrevista,
quase pulei de alegria. Comecei a pesquisar e formular perguntas freneticamente,
me empolgando com os resultados e sorrindo ao imaginar as possíveis respostas.
Ao chegar ao local combinado
(menos atrasada do que o calculado), consegui entrar rapidamente devido ao
horário. Conversei com os seguranças, que me levaram até o sushi bar, onde a
banda se preparava para lanchar. “Será que você poderia esperar uns 15
minutinhos? Nosso ‘rango’ acabou de chegar”, o líder da banda me disse amigável
e timidamente após uma breve apresentação. Eu disse que “sim, claro, estarei na
mesa ao lado. Sem pressa”. E esperei, enquanto testava o gravador e conferia as
perguntas nervosamente.
Depois de algum tempo, o
mesmo integrante se aproximou da minha mesa e sorriu: “Vamos lá?”. Juntei
minhas coisas enquanto ele me explicava que seria melhor que a entrevista fosse
do lado de fora, já que a música ali dentro era muito alta. Após confirmar a um
segurança que eu estava com a banda e ter minha passagem liberada, segui-os
para uma escada misteriosa que dava para a rua. Os cinco integrantes então
atravessaram a rua e se dispuseram em fila em uma pequena mureta; eu pedi para
fazer umas fotos da banda e eles atenderam prontamente, discutindo entre si
qual seria a melhor maneira de se posicionarem para a foto. Enquanto destampava
a lente da câmera e arrumava suas configurações, pensei “pelo visto eles são
todos simpáticos”. Para meu alívio, minha observação seria confirmada durante
toda a nossa conversa.
Dei início à entrevista
perguntando sobre a tradição da banda, que é a mais antiga de Belo Horizonte a
fazer cover dos Beatles. Eles então começaram uma história sobre um grupo de
amigos montando uma banda para tocar como hobby, que teve o sucesso reconhecido
e resolveu ampliar os horizontes. A cada pergunta feita, eles descontraíam a
resposta, contando histórias divertidas (toda banda as tem aos montes) e
fazendo questão de detalhar bem as respostas, para que eu pudesse entender.
O andamento da conversa foi
extremamente tranquilo, já que eu entendia bem do assunto e soube escolher as
perguntas certas. Como observadora nata, fui notando as características mais
perceptíveis de cada membro. O baterista, Jô Andrade, fazia o estilo “paizão”,
e respondia às perguntas com uma história sua ou de alguém da família. O
guitarrista principal, Beto Arreguy, era extremamente educado e cavalheiro;
notei isso a partir de sua apresentação formal, com direito a um aperto de mão,
e pela prontidão com que ele pegou uma caneta que deixei cair enquanto pegava
algo em minha bolsa. O baixista, Walter Andrade, também gostava de contar
histórias, talvez por ser o mais velho da banda. O vocalista principal e
guitarrista, Vlad Magalhães, fazia o tipo “esquisitão”; ficava mais calado e
parecia preferir responder a perguntas de ordem técnica e diretamente musical,
como as canções difíceis de reproduzir no palco. Simpatizei especialmente com
ele, talvez por seu jeito doce e paciente. O tecladista, por último, permaneceu
calado durante toda a entrevista, não sei se por timidez ou alguma espécie de
indiferença. Seu nome era Sylvio Campos e ele se destacava entre os outros
quatro por ser bem mais jovem que eles.
Após riscar todas as
perguntas da minha folha, a entrevista, que no final já tinha tomado o rumo de
uma conversa entre amigos, terminou, justo no momento em que o Jô pedia licença
para ir ao banheiro. Agradeci imensamente a atenção da banda, muito satisfeita
com o que tinha conseguido mas, principalmente, por eles terem sido tão
simpáticos e tornado meu trabalho tão fácil. Me despedi de todos eles e voltei
para o pub, onde esperei o início do show encostada no bar, com uma sensação de
dever cumprido. Quando eles subiram ao palco, fiz questão de prestigiá-los na
primeira fila, cantando todas as músicas daquela banda que era tão importante
para eles e para mim.